Em uma transmissão ao vivo realizada na manhã deste sábado (12/12) para toda a América Latina, o Hospital Mãe de Deus (HMD) tornou-se a primeira instituição médica do país a utilizar uma nova prótese auto expansível para o tratamento da estenose aórtica – quadro caracterizado pelo estreitamento da válvula aórtica. O procedimento, conhecido como Implante Transcateter de Válvula Aórtica (TAVI), foi realizado e coordenado pelo cirurgião cardiovascular do Corpo Clínico, Dr. Eduardo Saadi. Cerca de 700 médicos acompanharam a cirurgia virtualmente.
Desde 2009, o serviço de Cirurgia Cardiovascular e o Centro da Aorta do HMD são referências no país – motivo pelo qual o Hospital foi escolhido para realizar a transmissão de “estreia” da nova prótese.
Graduado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Dr. Saadi é professor titular em Cirurgia Cardiovascular e Endovascular na instituição federal – onde também possui Mestrado e Doutorado em Cardiologia e Cirurgia Cardiovascular –, e membro especialista e titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Cardiovascular (SBCCV) e da European Association for Cardiothoracic Surgery (EACTS).
A válvula aórtica funciona como uma “porta” que controla o fluxo de sangue desde o ventrículo esquerdo do coração até a artéria aorta. Devido ao seu estreitamento, ela acaba não realizando sua função corretamente, prejudicando o bombeamento de sangue, podendo evoluir para uma insuficiência cardíaca.
Sendo assim, é função do TAVI posicionar a prótese no local da válvula doente para regularizar o fluxo sanguíneo. O procedimento já era amplamente utilizado por tratar-se de uma alternativa menos invasiva do que a cirurgia convencional. Porém, diferentemente dos modelos anteriores, a nova prótese auto expansível utilizada no sábado proporciona, principalmente, uma melhora na recuperação do paciente.
“A nova prótese possui uma saia pericárdio em sua base que interage com o cálcio da válvula doente. Assim, ela evita vazamentos na região que possam vir a ocorrer em alguns casos. Esses vazamentos tinham relação direta com a mortalidade, prejudicando a recuperação do paciente após o procedimento”, aponta Dr. Saadi.
Mas o que é o Implante Transcateter de Válvula Aórtica (TAVI)?
A estenose aórtica ocorre principalmente em indivíduos com mais de 70 anos, gerando sintomas como dor no peito, cansaço ou desmaios. Até o início dos anos 2000, a cirurgia convencional era o principal tratamento contra o quadro. Porém, o procedimento oferecia riscos aos pacientes nessa faixa etária.
A partir do primeiro TAVI (sigla em inglês para Transcatheter Aortic Valve Implantation) – realizado na Europa em 2002, e popularizado no Brasil em 2008 –, foi possível a introdução de um procedimento menos invasivo, com mais benefícios aos pacientes.
“Usamos a cirurgia convencional até hoje, mas ainda segue sendo o procedimento mais agressivo e com uma recuperação mais lenta. O TAVI é muito menos invasivo, podendo ser feito sem anestesia geral, com um tempo de recuperação no hospital entre um e dois dias”, ressalta Dr. Saadi.
Como ele funciona?
O procedimento pode ser feito de duas formas, transfemoral ou transapical. Ambas tem como objetivo posicionar as próteses no local da válvula doente. Veja como cada uma funciona:
Transfemoral: usado em 95% dos casos, o procedimento é todo feito pela virilha, com a prótese sendo implantada por cateteres introduzidos na artéria femoral e seguindo até o coração. Assim, a válvula doente é dilatada por um balão e a prótese é implantada
Transapical: menos utilizado, o procedimento consiste em uma pequena incisão do lado esquerdo do tórax, abaixo do mamilo. Assim, o cateter com a prótese é introduzido diretamente no coração.
As próteses se dividem em dois grupos distintos, podendo ser expandidas por meio de um balão, ou as chamadas auto expansíveis.
E como é a recuperação?
De acordo com Dr. Saadi, os pacientes que realizam o procedimento podem ficar no máximo até dois dias em observação no hospital. Logo em seguida, podem seguir suas vidas normais. A prótese não necessita de troca, podendo ser usada até o final da vida do paciente. O cirurgião cardiovascular somente reforça que um acompanhamento periódico deve ser seguido de seis em seis meses, ou anualmente.