Prezados (as),
Iniciamos nesta semana a retirada da meperidina do Hospital Mãe de Deus, entrando para o grupo de hospitais Petidina Free.
Trata-se de uma medida que requer a adaptação de todos, buscando ações baseadas em dados da literatura, fugindo da indicação pelo uso habitual. Os médicos hospitalistas trabalharão em conjunto para auxiliar a busca de novas alternativas a essa medicação.
O uso da meperidina tem sido restringido tendo em vista a gama de reações adversas, interações medicamentosas e neurotoxicidade pela normeperidina.
Descrevemos alguns dados sobre a Meperidina (Dolantina):
– Não há evidência de vantagem no uso da meperidina em relação a outros opioides para cólica biliar e pancreatite.
– Alternativas na sedação no paciente consciente:
- Procedimentos de curta duração (30-60 minutos) – indicado o uso do fentanil.
- Procedimentos de longa duração – indicado o uso da morfina.
– Tramadol é indicado no tremor pós-operatório, tanto na prevenção quanto no tratamento do sintoma, com menor risco de depressão respiratória, tendo o cuidado de administrar lentamente para evitar vasodilatação periférica. Indicado também no tremor da bacteremia.
– Casos de alergia a morfina devem ser reavaliados. No passado, o preparo da morfina continha inúmeros contaminantes devido a origem natural das substâncias. A tolerância do preparo atual é muito maior devido uso de produtos purificados. Deve ser visto se o paciente apresentou uma reação alérgica de fato ou reação adversa, pois a morfina é o maior desencadeante de liberação de histamina de todos opióides. A administração associada de anti-histamínico pode evitar esse paraefeito. Casos reais de alergia podem usar os medicamentos da mesma classe, como a codeína. Ou ainda usar de outra classe, como fentanil e metadona.
– A neurotoxicidade da meperidina é causada pelo seu metabólito ativo, a normeperidina, causando agitação, nervosismo, mioclonias, hiperreflexia , tremores e convulsões. Esse metabólito dura por muito mais tempo que a meperidina e seu acúmulo é inevitável. Os efeitos colaterais são mais comuns no uso de altas doses, no paciente com insuficiência renal, no uso por via oral e no uso por tempo prolongado.
– Meperidina pode causar síndrome serotoninérgica quando seu uso é combinado a agentes serotoninérgicos, como os inibidores da monoaminaoxidase, inibidores seletivos da recaptação de serotonina (citalopram, fluoxetina, paroxetina, sertralina).
– Pacientes que solicitam o uso específico da meperidina devem ser orientados que não há vantagem no controle da dor sobre outros opioides.
– Apesar de postulado como causar menos depressor respiratório, seu efeito depressor é duas vezes mais potente em relação a morfina e seu uso durante o parto tem como risco a depressão respiratória de neonatos, além dos outros efeitos colaterais.
– O efeito anticolinérgico da meperidina (motivo pelo qual teve sua primeira indicação no início do uso dessa medicação) causa visão borrada, constipação, taquicardia, xerostomia, exacerbação do glaucoma e possíveis efeitos no SNC (agitação, confusão, delirium, desorientação, déficit de memória e alucinação).
– A meperidina é o narcótico que mais causa adição em enfermeiros e médicos devido a fácil disponibilidade, ação de curta duração, não causa miose.
Leitura indicada:
– Latta KS, Ginsberg B, Barkin R. Meperidine: a critical review. Am J Ther 2002; 9: 53-68.
– Beckwith MC, Fox ER, Chandramouli J. Removing Meperidine from Health-System Formulary – Frequently Asked Quastions. Journal of Pain and Palliative Care Pharmacotherapy, Vol, 16(3)2002.
– Mathews S, Mulla AA, Varghese PK, Radim K, Mumtaz S. Postanaestthesic shivering – a new look at tramadol
– O’Conner AB, Lang VJ, Quill TE. Eliminating analgesic meperidine use with a supported formulary restriction Am J Med 2005; 118: 885-9.
Dr. Euler Manenti
Diretor Médico do Hospital Mãe de Deus (CREMERS 11479)